Todos em bloco
Uma nova associação e 20.000 alunos na mesma sala... A geografia da Universidade ocupa os sonhos de oito dirigentes
Texto: Ricardo Diogo
"A tradição diz que as associações de estudantes da UL não se entendem. Mas tudo pode estar prestes a mudar. Os dirigentes associativos estudam há meses a fundação de uma nova entidade representativa dos alunos – a Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL). Todos os 20.000 estudantes da UL poderão ter direito a voto directo numa Assembleia Magna e a ser dirigidos por uma Direcção- Geral e um Conselho Fiscal.. As AE actuais não irão desaparecer e estarão institucionalmente representadas num Senado.
A ideia, que foi lançada em inícios de 2004 por Bruno Carapinha (então presidente da RGA de Letras), foi progressivamente ganhando adeptos. Decorrido um ano de conversas informais, em Março de 2005, Direito redigiu uma proposta de Estatutos na qual reuniu os contributos das oito associações. Pretende-se criar novas estruturas que permitam a todos os estudantes da Universidade pronunciar-se directamente sobre assuntos comuns, mantendo o património histórico e a independência de cada uma das associações. Neste momento a ser aperfeiçoado, o documento deverá ser levado ás RGA de todas as faculdades durante o próximo mês.
Ludovina Silva, presidente da AE de Psicologia, considera que esta união permitirá uma maior troca de informação e apoios. Dar-nos-á uma maior representatividade e garantirá que a nossa voz seja mais ouvida.
Universidade federal
A estrutura (que faz lembrar a da União Europeia), poderá ser única no país. Com a entrada eminente do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa para a UL, a Assembleia Magna (assim se chamará o órgão deliberativo) poderá reunir 27 mil vozes.
O Senado (ou Conselho Geral) representará as AE que decidirem aderir ao projecto e que aí poderão defender pontos de vista institucionais. O presidente da cada direcção será senador por inerência e cada faculdade terá direito a pelo menos mais dois. Acrescem ainda outros 13 lugares, a distribuir por percentagem de alunos.
A Direcção-Geral (órgão executivo) apenas poderá decidir em matérias que afectem o colectivo universitário.Incluirá necessariamente membros de pelo menos 5 instituições diferentes. Exigir um por cada poderia implicar muitos mandatos. André Pardal, vice-presidente da Associação Académica de Direito antevê que na prática, as listas venham a apresentar sempre candidatos de quase todas as faculdades para congregarem diferentes eleitorados.
Para André Caldas, presidente da Académica de Medicina Dentária, devemos evitar conflitos de interesses, garantindo que cada membro da Direcção-Geral tenha um compromisso de exclusividade com a AAUL. Seria importante que já tivessem um património de experiência prévio nas suas próprias faculdades. Mas nunca em simultâneo. Não receia que em faculdades mais pequenas (e a sua é a menor) possa não haver gente para preencher tantos cargos. Para Hugo Ferreira, vice-presidente da AE de Medicina, o problema é outro: a percentagem de alunos interessados em política associativa é reduzida. Eu próprio tive de abandonar as reuniões porque não tenho disponibilidade e não tenho ninguém que me substitua.
O Conselho Fiscal vai estar permanentemente atento à gestão financeira. Com tudo isto, Ricardo Correia, presidente da AE de Belas Artes, faz um prognóstico ambicioso. Podemos ser percursores de uma mudança no movimento associativo nacional. Este sistema não provoca a estagnação das associações de base como sucede no Porto ou em Coimbra e assegura a diversidade
de opiniões e eleições directas.
Nesta lógica de diversidade, prevê-se que os núcleos que venham a ser criados (como grupos de teatro ou jornais) gozem de autonomia financeira e se organizem como entendam.
A passo
As AE ainda precisam de acertar agulhas. A proposta será ainda revista para facilitar a sua discussão nas RGA, que serão soberanas. Se estas impuserem alterações, os dirigentes terão de reunir novamente, desta vez vinculados. Se os aprovarem, cada AE estará legitimada para integrar a AAUL. Restará convocar uma Assembleia Magna com todos os alunos da Universidade para lhe dar legitimidade total e tratar dos procedimentos legais, nomeadamente o registo e publicação dos Estatutos em Diário da República. A AAUL terá então pernas para andar. Resta convocar as primeiras eleições gerais para os órgãos da recém-nascida.
Mesmo que uma das AE rejeite a proposta, os seus alunos poderão ainda assim exercer todos os direitos políticos, nomeadamente o direito de voto em Assembleia Magna. Apenas a sua Associação não estará institucionalmente representada no Senado, onde muito se poderá decidir.
Em Algumas AE estão para breve processos eleitorais, que poderão alterar a orientação das direcções quanto a este assunto. Mas isto não atemoriza os dirigentes associativos empenhados neste processo. António Baptista, em gestão na Direcção de Letras, está confiante: O projecto será reconhecido como bom e terá pernas para andar.
Todos consideram que o final deste ano lectivo seria boa altura para discutir os Estatutos e que no próximo se poderiam realizar as primeiras eleições.
Desafios à vista
O financiamento ainda levanta algumas dúvidas. Em Direito, André Pardal considera que o IPJ deve financiar a AAUL e quem deve financiar as AE de base devem ser os Conselhos Directivos. Já para o colega de Ciências, Nuno Linder, presidente de uma associação que vai fazer 20 anos, nunca poderemos estar dependentes de quem venha a estar na AAUL. O que quer que se decida, deve ficar expresso nos Estatutos. Na mesma linha, António Baptista sublinha que se o subsídio fosse todo direccionado para a AAUL, caso nos incompatibilizássemos, nunca poderíamos abandoná-la pois não teríamos dinheiro para sobreviver. A nossa independência ficaria limitada e os nossos funcionários sem salário.
Encontrou-se uma solução de compromisso. Em cada ano, será o Senado a decidir aquilo que é mais vantajoso, tendo em conta as fórmulas de cálculo previstas na Lei do Associativismo Jovem (actualmente em discussão no Parlamento).
Outro problema será a aceitação desta Associação no panorama associativo nacional, nomeadamente no Encontro Nacional de Direcções Associativas. É uma incógnita se as outras associações do país reconhecerão à AAUL o direito de voto, a acumular com o de todas as outras AE da Universidade. Os dirigentes concordam que a estratégia poderá passar por negociar no seio da AAUL as posições que todas deverão adoptar nestes Encontros.
E falta ainda encontrar uma sede... Apesar de até ao momento não ter havido conversações oficiais com a Reitoria, André Caldas gostava de ver o quartel-general da AAUL na Cantina Velha ou no Estádio Universitário, locais comuns a todos os estudantes. Gostaria que pudéssemos construir um edifício próprio nos terrenos da UL. Mas isto é apenas um sonho...
Um sonho que, a comandar uma nova tradição académica, poderá construir novas realidades. A quererem-na os alunos.."
in
jornal da
associação de
estudantes da faculdade
de letras
da universidade
de lisboa
mensal
ano XIV
março de 2006
n.º64
Uma nova associação e 20.000 alunos na mesma sala... A geografia da Universidade ocupa os sonhos de oito dirigentes
Texto: Ricardo Diogo
"A tradição diz que as associações de estudantes da UL não se entendem. Mas tudo pode estar prestes a mudar. Os dirigentes associativos estudam há meses a fundação de uma nova entidade representativa dos alunos – a Associação Académica da Universidade de Lisboa (AAUL). Todos os 20.000 estudantes da UL poderão ter direito a voto directo numa Assembleia Magna e a ser dirigidos por uma Direcção- Geral e um Conselho Fiscal.. As AE actuais não irão desaparecer e estarão institucionalmente representadas num Senado.
A ideia, que foi lançada em inícios de 2004 por Bruno Carapinha (então presidente da RGA de Letras), foi progressivamente ganhando adeptos. Decorrido um ano de conversas informais, em Março de 2005, Direito redigiu uma proposta de Estatutos na qual reuniu os contributos das oito associações. Pretende-se criar novas estruturas que permitam a todos os estudantes da Universidade pronunciar-se directamente sobre assuntos comuns, mantendo o património histórico e a independência de cada uma das associações. Neste momento a ser aperfeiçoado, o documento deverá ser levado ás RGA de todas as faculdades durante o próximo mês.
Ludovina Silva, presidente da AE de Psicologia, considera que esta união permitirá uma maior troca de informação e apoios. Dar-nos-á uma maior representatividade e garantirá que a nossa voz seja mais ouvida.
Universidade federal
A estrutura (que faz lembrar a da União Europeia), poderá ser única no país. Com a entrada eminente do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa para a UL, a Assembleia Magna (assim se chamará o órgão deliberativo) poderá reunir 27 mil vozes.
O Senado (ou Conselho Geral) representará as AE que decidirem aderir ao projecto e que aí poderão defender pontos de vista institucionais. O presidente da cada direcção será senador por inerência e cada faculdade terá direito a pelo menos mais dois. Acrescem ainda outros 13 lugares, a distribuir por percentagem de alunos.
A Direcção-Geral (órgão executivo) apenas poderá decidir em matérias que afectem o colectivo universitário.Incluirá necessariamente membros de pelo menos 5 instituições diferentes. Exigir um por cada poderia implicar muitos mandatos. André Pardal, vice-presidente da Associação Académica de Direito antevê que na prática, as listas venham a apresentar sempre candidatos de quase todas as faculdades para congregarem diferentes eleitorados.
Para André Caldas, presidente da Académica de Medicina Dentária, devemos evitar conflitos de interesses, garantindo que cada membro da Direcção-Geral tenha um compromisso de exclusividade com a AAUL. Seria importante que já tivessem um património de experiência prévio nas suas próprias faculdades. Mas nunca em simultâneo. Não receia que em faculdades mais pequenas (e a sua é a menor) possa não haver gente para preencher tantos cargos. Para Hugo Ferreira, vice-presidente da AE de Medicina, o problema é outro: a percentagem de alunos interessados em política associativa é reduzida. Eu próprio tive de abandonar as reuniões porque não tenho disponibilidade e não tenho ninguém que me substitua.
O Conselho Fiscal vai estar permanentemente atento à gestão financeira. Com tudo isto, Ricardo Correia, presidente da AE de Belas Artes, faz um prognóstico ambicioso. Podemos ser percursores de uma mudança no movimento associativo nacional. Este sistema não provoca a estagnação das associações de base como sucede no Porto ou em Coimbra e assegura a diversidade
de opiniões e eleições directas.
Nesta lógica de diversidade, prevê-se que os núcleos que venham a ser criados (como grupos de teatro ou jornais) gozem de autonomia financeira e se organizem como entendam.
A passo
As AE ainda precisam de acertar agulhas. A proposta será ainda revista para facilitar a sua discussão nas RGA, que serão soberanas. Se estas impuserem alterações, os dirigentes terão de reunir novamente, desta vez vinculados. Se os aprovarem, cada AE estará legitimada para integrar a AAUL. Restará convocar uma Assembleia Magna com todos os alunos da Universidade para lhe dar legitimidade total e tratar dos procedimentos legais, nomeadamente o registo e publicação dos Estatutos em Diário da República. A AAUL terá então pernas para andar. Resta convocar as primeiras eleições gerais para os órgãos da recém-nascida.
Mesmo que uma das AE rejeite a proposta, os seus alunos poderão ainda assim exercer todos os direitos políticos, nomeadamente o direito de voto em Assembleia Magna. Apenas a sua Associação não estará institucionalmente representada no Senado, onde muito se poderá decidir.
Em Algumas AE estão para breve processos eleitorais, que poderão alterar a orientação das direcções quanto a este assunto. Mas isto não atemoriza os dirigentes associativos empenhados neste processo. António Baptista, em gestão na Direcção de Letras, está confiante: O projecto será reconhecido como bom e terá pernas para andar.
Todos consideram que o final deste ano lectivo seria boa altura para discutir os Estatutos e que no próximo se poderiam realizar as primeiras eleições.
Desafios à vista
O financiamento ainda levanta algumas dúvidas. Em Direito, André Pardal considera que o IPJ deve financiar a AAUL e quem deve financiar as AE de base devem ser os Conselhos Directivos. Já para o colega de Ciências, Nuno Linder, presidente de uma associação que vai fazer 20 anos, nunca poderemos estar dependentes de quem venha a estar na AAUL. O que quer que se decida, deve ficar expresso nos Estatutos. Na mesma linha, António Baptista sublinha que se o subsídio fosse todo direccionado para a AAUL, caso nos incompatibilizássemos, nunca poderíamos abandoná-la pois não teríamos dinheiro para sobreviver. A nossa independência ficaria limitada e os nossos funcionários sem salário.
Encontrou-se uma solução de compromisso. Em cada ano, será o Senado a decidir aquilo que é mais vantajoso, tendo em conta as fórmulas de cálculo previstas na Lei do Associativismo Jovem (actualmente em discussão no Parlamento).
Outro problema será a aceitação desta Associação no panorama associativo nacional, nomeadamente no Encontro Nacional de Direcções Associativas. É uma incógnita se as outras associações do país reconhecerão à AAUL o direito de voto, a acumular com o de todas as outras AE da Universidade. Os dirigentes concordam que a estratégia poderá passar por negociar no seio da AAUL as posições que todas deverão adoptar nestes Encontros.
E falta ainda encontrar uma sede... Apesar de até ao momento não ter havido conversações oficiais com a Reitoria, André Caldas gostava de ver o quartel-general da AAUL na Cantina Velha ou no Estádio Universitário, locais comuns a todos os estudantes. Gostaria que pudéssemos construir um edifício próprio nos terrenos da UL. Mas isto é apenas um sonho...
Um sonho que, a comandar uma nova tradição académica, poderá construir novas realidades. A quererem-na os alunos.."
in
jornal da
associação de
estudantes da faculdade
de letras
da universidade
de lisboa
mensal
ano XIV
março de 2006
n.º64
4 comentários:
Só leio atrocidades. Afinal parece que já me começam a dar razão. Afinal as AAEE vão deixar de ter subsídio. Afinal no ENDA as AAEE vão deixar de ter voto. Vamos lá ver agora o que diz o RNAJ sobre a subsistência das AAEE com esta nova estrutura. Ah e não se esqueçam também de fazer uma nova assembleia magna...pq a outra foi ilegal.
Palhaçada ao quadrado. Então se uma AE não aprovar a adesão à AAUL os estudantes podem votar, só não ficando representados no Conselho Geral?? Estou incrédula! Isso são milhares de DUH's seguidos. Era como se um país não aderisse à União Europeia mas houvesse representantes desse país na Comissão Europeia. Sem comentários...
Quando forem descerrar a placa de enterro da AEFCL, avisem...
A Ondina quando colocou aqui este artigo, com mais de ano, não teve como objectivo dar-te razão. Lamento! Teve sim o objectivo de mostrar aos estudantes os erros que contém, o quais este blog e os estudantes que dele fazem parte querem ver esclarecidos.
Não vou voltar a falar do financiamento, da autonomia, dos órgãos, até porque isso já foi aqui bastante abordado. Nos posts, em comentários, é só lerem o que está para trás neste blog. A repetição e o "cassetismo" sempre foi para mim um pouco DUH!
Ah, e palhaçada ao quadrado é mesmo a AEFCL faz 20 anos de acordo com o artigo, quando na realidade comemora este ano o seu centenário.
Admira-me que uma pessoa que tão afincadamente defende a AE de qual já fez parte durante vários anos não ter reparado nesse outro erro... É só uma diferença pequenita de 80 anos, ninguém dá por ela...
Olá Ana,
Eu reparei nesse erro mas depois esqueci-me de referir isso. Acho q a DAE devia mandar uma nota para o fazedores de letras.
Quando eu disse que afinal já me começavam a dar razão foi com o intuito de já ter alertado para estes problemas há muito tempo e a resposta que me davam era: "Não é bem assim". Pelos vistos a cassete deu resultado...pelo menos houve já alguém que a ouviu.
Penso que, se ainda não foi enviada, será em breve :)
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